Celebrar o Jubileu da Misericórdia


  Esse é o primeiro aspecto apresentado na coleção “Misericordiosos como o Pai” do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização publicado pelas editoras Paulinas e Paulus aqui no Brasil. A coleção consta de oito volumes cujos aspectos gostaria de compartilhar com vocês que buscam melhor vivenciar esse período: “Cada vez que a Igreja celebra os sacramentos, não faz mais do que tornar sempre viva e presente a misericórdia do Pai, que age através do Filho e transforma o coração dos inquietos e a matéria dos sacramentos em graça eficaz para a nossa salvação” (Celebrar a Misericórdia – Subsídio Litúrgico).
  Se há um aspecto que sempre marcou os muitos jubileus celebrados pela nossa Igreja são as celebrações litúrgicas que aconteceram em Roma, presididas pelo Santo Padre. A inovação de Francisco, que desde sempre vem nos surpreendendo em seu pontificado foi estender às Igrejas particulares, particularmente às igrejas catedrais, a abertura de uma ‘posta santa’ para um maior envolvimento das dioceses espalhadas no mundo inteiro na vivência desse Ano Santo, em comunhão com a Igreja em Roma. Cada diocese pode também indicar outras igrejas para a peregrinação dos fiéis que julgar oportuno para melhor abranger e envolver a diocese. 

- O Ano Litúrgico.

  Nesse ano litúrgico que estamos celebrando, o evangelho de Lucas (Ano C) traz especial retrato da misericórdia divina em muitos dos seus textos. Oportunamente devemos tornar ainda mais evidente a cada domingo, onde celebramos o mistério pascal, como os fiéis podem viver tais aspectos da misericórdia divina, incutindo esse pensamento da prática da caridade e do apostolado, pois nossa relação com o Senhor implica a partilha desse amor que ele faz arder em nosso coração. Nossa alegria verdadeira está em permanecer em comunhão com o seu mandamento de amor.
  A Quaresma, por sua natureza, já nos convida a uma especial contemplação da misericórdia divina com os ritos próprios desse período. O Papa nos lembra e nos pede a especial meditação das páginas da Sagrada Escritura que nos ajudam a redescobrir o rosto misericordioso de Deus. Mais à frente comentaremos sobre as parábolas da misericórdia, outro volume dessa publicação do Conselho Pontifício. A Quaresma tem como fim a celebração da Páscoa e para bem celebrá-la revivemos a necessidade da conversão como caminho de renovação espiritual, tendo a Semana Santa e o Tríduo Pascal como cume desse caminho espiritual/litúrgico que revelam o desejo salvador de Deus que se perpetua ao longo da história. Sim, seu amor é sem fim e nas águas do batismo renovamos nossa fé para experimentarmos também hoje esse amor. 
  Outras festas e solenidades do calendário litúrgico nos servirão de oportunidade para trazer à tona esse tema da misericórdia. O subsídio lembra a Festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro) e a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus (03 de junho). A cruz como sinal eminente da misericórdia de Deus e da vitória de Cristo sobre a morte pode ganhar especial atenção durante o Ano Litúrgico. O olhar contemplativo a essa realidade íntima e essencial do Filho de Deus em seu Coração, sede da misericórdia do Pai, seja acompanhada de momentos de oração pelos sacerdotes, primeiros dispensadores da misericórdia divina, e pela vida consagrada (religiosos e religiosas). Esse ano celebra-se os cento e sessenta anos da instituição dessa festa por Pio IX, em 1856.

- A Celebração dos Sacramentos
                
  A celebração dos sacramentos nesse ano deve fazer transparecer “a misericórdia e a solicitude do Pai por cada um dos seus filhos”. Além da Eucaristia, como celebração central da fé, outros sacramentos devem ganhar especial atenção: o Batismo, a Reconciliação e sua estreita relação com o sacramento da Eucaristia, a Unção dos Enfermos.
  Nesses últimos tempos se vem enfatizando a questão do acolhimento e particular atenção aos que tentam se aproximar da comunidade após um certo período de afastamento ou mesmo a aproximação destes a partir de sua realidade existencial. A ênfase ao Ato Penitencial num maior uso da diversidade oferecida pelo Missal como chamado a celebração da misericórdia. Nas preces se façam presentes o desejo da ação da misericórdia de Deus sobre o povo, sobre os sacerdotes. O uso maior das orações Eucarísticas da reconciliação I e II. A presença da Virgem Maria, mãe de misericórdia possa se destacar pelas missas votivas que enfatizam a sua presença na caminhada eclesial tanto quanto as outras missas e orações pelas várias necessidades.

- Rezar Juntos

  Além de programar momentos de oração comunitária, ressalte-se o valor da Oração da Liturgia da Horas rezada com a comunidade particularmente a Laudes e Vésperas que ressalta a importância e o alimento espiritual que os salmos trazem à vida cristã. Particularmente se tenha a atenção para os salmos da misericórdia, dedicando-lhes, se possível algum comentário que ressalte sua riqueza.
  A Adoração ao Santíssimo, já presente na vida comunitária é um momento oportuno para implorar o perdão e a paz. A proximidade das Igrejas cristãs pode também promover momentos específicos de oração onde a procura da unidade, do respeito recíproco e da paz dos corações favoreçam sempre mais a aproximação dos irmãos que comungam da fé no mesmo Deus.
  Um outro elemento que não se pode desprezar é o que diz respeito às práticas da piedade popular. A peregrinação é um desses costumes que entram particularmente no calendário celebrativo dessa no da misericórdia, tão presente na tradição do Antigo testamento, serve de sinal para o caminho que cada pessoa faz na sua existência. As devoções que cercam o mistério da Cruz, como a Via-Sacra, particularmente na Quaresma, as devoções voltadas para Virgem Maria, Mãe do crucificado a recitação do Terço da Misericórdia, chamada no texto ‘Coroinha à Divina Misericórdia’, já que a o nome ‘terço’ diz respeito a ‘uma parte de’, o que não se aplica a essa devoção. Divulgação e recitação da Oração pelo Jubileu da Misericórdia.
  Alguns lugares e elementos ganham particular relevância em seu apelo simbólico, como o altar de nossas igrejas onde se dá o sacrifício de Cristo e o baquete eucarístico. A porta dos nossos templos e particularmente dos locais de indulgência esse ano, devem ganhar particular destaque. A fonte batismal onde a Igreja nasce e renasce constantemente para os o a tem como lugar fixo, uma melhor iluminação e adorno necessário sem esquecer a presença do Círio Pascal. O confessionário fixo deve ser também revisado como lugar que realmente favoreça a celebração penitencial tanto quanto o acolhimento do fiel.
  Recorda-se a prática da comunhão espiritual para aqueles que por algum motivo estejam impedidos de participar da Eucaristia. A prática de recolher-se em si mesmo no momento da celebração ou mesmo como prática espiritual durante o dia ou na visita ao Santíssimo Sacramento, expressões do ardente desejo de receber Jesus em seu coração.

- Lectio Divina 

  A Leitura Orante da Palavra de Deus tem ganhado particular destaque nesses últimos anos, quase como uma redescoberta desse tesouro da fé. Assim o subsídio oferece alguns trechos da Sagrada Escritura acompanhados do comentário que está no volume “As parábolas da Misericórdia” com alguns salmos para a oração, seguindo o esquema: Escutar (ler), Meditar (refletir sobre o texto servindo-se de algum comentário ou mesmo das notas vindas na Bíblia), Rezar (de modo pessoal, sobre o que esse texto diz para você ou servir-se de alguns salmos relacionados ao texto).  Ali estão: A Parábola do Filho Pródigo (Lc 15) + Salmos: 51 e 25; A Parábola do Bom Samaritano (Lc 10) + Salmos: 41 e 142; A Pecadora que lava os pés de Jesus (Lc 7) + Salmos 24 e 42.

Conclusão: O subsídio sobre a celebração do Jubileu se encerra com um rito para a abertura da Porta Santa tanto em Roma quanto nas Igrejas particulares e o rito de encerramento do Jubileu nas Igrejas particulares.   

Oração para o Jubileu da Misericórdia

Senhor Jesus Cristo,
Vós que nos ensinastes a sermos misericordiosos como o Pai celeste,
e nos dissestes que quem Vos vê, vê a Ele.
Mostrai-nos o Vosso rosto e seremos salvos.
O Vosso olhar amoroso libertou Zaqueu e Mateus da escravidão do dinheiro;
a adúltera e Madalena de colocar a felicidade apenas numa criatura;
fez Pedro chorar depois da traição
e assegurou o Paraíso ao ladrão arrependido.
Fazei que cada um de nós considere como dirigida a si mesmo as palavras que dissestes à mulher samaritana:
Se tu conhecesses o dom de Deus!
Vós sois o rosto visível do Pai invisível,
do Deus que manifesta Sua onipotência, sobretudo com o perdão e a misericórdia.
Fazei que a Igreja seja no mundo o rosto visível de Vós, Senhor, ressuscitado e na glória.
Vós quisestes que os Vossos ministros fossem também eles revestidos de fraqueza,
para sentirem justa compaixão por aqueles que estão na ignorância e no erro:
fazei que todos os que se aproximarem de cada um deles se sintam esperados, amados e perdoados por Deus.
Enviai o Vosso Espírito e consagrai-nos a todos com a Sua unção,
para que o Jubileu da Misericórdia seja um ano de graça do Senhor
e a Vossa Igreja possa, com renovado entusiasmo, levar aos pobres a alegre mensagem e
proclamar aos cativos e oprimidos a libertação;
aos cegos restaurar a vista.
Nós Vo-lo pedimos por intercessão de Maria, Mãe de Misericórdia,
a Vós que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos.
Amém.